"Em memória de mim..."
- Cristão Teólogo
- 4 de nov. de 2024
- 5 min de leitura
Você já parou para pensar por que Jesus usou algo tão simples como pão e vinho para nos ensinar uma verdade tão profunda? A Santa Ceia é muito mais do que um ritual; é um encontro poderoso entre o ordinário e o extraordinário, o simples e o divino, o comum e o sagrado. As palavras "Em memória de mim..." atravessam o tempo, sustentam nossa fé e nos apontam para um futuro glorioso.

"Este é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto, em memória de mim... Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, em memória de mim... Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha."
Naquela noite especial, Jesus não estava apenas partilhando uma refeição com os discípulos. Era a celebração da Páscoa, o momento mais sagrado para os judeus, que lembrava a libertação do povo do Egito, quando Deus os resgatou da escravidão após longos 400 anos. A Páscoa, conhecida como "Pesach" em hebraico, era um evento cheio de significados: relembrava o livramento das dez pragas, especialmente a última, em que o anjo da morte passou sobre as casas marcadas com o sangue do cordeiro sacrificado, poupando apenas os primogênitos de Israel.
Só que, dessa vez, o significado foi levado a um nível completamente novo. Jesus estava preparando Seus amigos para a libertação definitiva, não apenas de um cativeiro físico, mas de um cativeiro espiritual — o pecado e a morte. Ele pegou elementos familiares — o pão e o vinho — e os transformou em algo que marcaria para sempre a nossa fé.
Já se perguntou por que Jesus escolheu o pão e o vinho, coisas tão simples e comuns, para simbolizar algo tão grandioso? A resposta está justamente na simplicidade desses elementos. O pão e o vinho eram parte do cotidiano das pessoas na época. O pão era o alimento básico, presente em quase todas as refeições. O vinho, além de ser consumido frequentemente, tinha uma importância cultural e religiosa: era usado em celebrações, festas e nos momentos de adoração.
Ao escolher o pão, Jesus estava utilizando algo que era acessível a todos, um alimento comum que sustentava a vida diária. O pão sem fermento (matzá), utilizado na Páscoa, tinha ainda um significado especial: representava a pressa da saída do Egito, quando não havia tempo para esperar a massa levedar, e também simbolizava a pureza, pois o fermento era associado ao pecado. Quando Jesus declarou: “Este é o meu corpo, que é dado por vocês”, Ele estava mostrando que, assim como o pão era essencial para a vida física, o Seu sacrifício era essencial para a vida espiritual. Ele Se fez "pão da vida" (João 6:35), aquele que sustenta e dá verdadeira vida à alma. O vinho, por outro lado, era um símbolo de alegria e celebração, mas também de aliança. Era tradição que durante a refeição da páscoa, quatro cálices de vinho fossem bebidos, cada um representando uma das promessas de Deus de libertação.(Êxodo 6:6-7). Quando Jesus pegou o cálice e disse: “Este é o meu sangue, o sangue da nova aliança”, Ele estava selando um novo pacto, algo que o povo entendia bem, pois alianças na cultura judaica frequentemente envolviam sacrifícios e derramamento de sangue. O vinho simbolizava o sangue que seria derramado por todos nós, purificando e trazendo vida nova.
A escolha de elementos tão simples também reflete a própria mensagem de Jesus: Deus se revela no comum, no cotidiano. Ele se faz presente nos momentos mais simples da vida. O pão e o vinho nos lembram que a graça de Deus não é complicada; é acessível, disponível a todos. Essa simplicidade reflete o coração do Evangelho: a salvação é oferecida de graça, para todos que creem, sem distinção. Tenho lido um livro incrível de Tish Warren, "A liturgia do Ordinário", onde ela mostra como a vida cristã é vivida nos detalhes cotidianos e nas pequenas rotinas. Da mesma forma que o pão e o vinho, elementos ordinários, tornam-se veículos para uma experiência extraordinária com Deus, nossa fé é alimentada nas coisas simples do dia a dia. Deus nos encontra e transforma o comum em sagrado, mostrando que, por meio de gestos rotineiros, podemos experimentar a profundidade da presença dEle.
Sinceramente, Deus é um verdadeiro especialista quando se trata de transformar o que parece sem importância em algo grandioso. Olhe para as histórias da Bíblia: um pequeno pastor chamado Davi se torna o rei de Israel; uma jovem "comum" chamada Maria, é escolhida para ser a mãe do Salvador; e cinco pães e dois peixes se tornam o suficiente para alimentar milhares. Com isso, Deus nos ensina que são os momentos mais simples e as coisas mais comuns que Ele escolhe para revelar Sua glória e fazer algo extraordinário. Adoro uma citação de Chesterton que diz assim:
"Vou sentar-me e deixar que as maravilhas e aventuras pousem em mim como moscas. Há muitas delas, garanto. O mundo nunca sofrerá com a falta de maravilhas, mas apenas com a falta da capacidade de se maravilhar." - G. K. Chesterton em Pequenas Trivialidades
A Santa Ceia também aponta para o que está por vir. Quando participamos do pão e do vinho, estamos não só lembrando o que Jesus fez por nós, mas também esperando ansiosamente pelo dia em que estaremos com Ele na mesa celestial, celebrando a vitória definitiva sobre todo o mal. Naquele momento, Jesus prometeu aos discípulos que não beberia do fruto da videira até que tudo se cumprisse no Reino de Deus (Mateus 26:29). Isso significa que cada vez que celebramos a Ceia, é como se disséssemos: "Estamos aguardando a Tua volta, Senhor!" – um lembrete de que nossa fé aponta para o futuro, para o dia em que viveremos eternamente com Ele.
Celebrar a Ceia é como renovar nossos votos com Deus. Ao tomarmos o pão e o vinho, reafirmamos nossa aliança com Ele, lembrando que pertencemos a Cristo. É um momento de parar e refletir: "Como está minha caminhada com Deus? Tenho vivido à altura do sacrifício de Jesus?". Essa prática não é só um ritual; é um combustível para a nossa fé, um lembrete de que, por meio de Cristo, temos acesso à vida eterna e somos chamados a viver como Seus seguidores aqui e agora.
Portanto, quando você se sentar à mesa da Ceia, lembre-se: isso não é apenas um memorial de um evento do passado. É uma ponte que nos conecta ao sacrifício de Jesus e ao futuro glorioso que Ele prometeu. Em cada pedacinho de pão e em cada gole de vinho, há uma mensagem poderosa: fomos libertos, estamos sendo sustentados e seremos glorificados.
Com amor e fé,
Cristão Teólogo.