Os Limites da Liberdade Cristã
- Cristão Teólogo
- Oct 22, 2024
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Às vezes, pensamos na liberdade como um passe livre para fazer o que quisermos, como se não houvessem consequências. Por outro lado, tem quem viva como se seguir a Cristo fosse uma longa lista de “não pode isso, não pode aquilo”, onde tudo é proibido. Confesso que já me peguei oscilando entre esses dois opostos. Mas quando leio 1 Coríntios 10, percebo que a verdadeira liberdade cristã é algo bem diferente. Paulo nos convida a um caminho de equilíbrio, onde nossa liberdade não é vivida de qualquer jeito, nem sufocada por regras sem sentido, é um chamado para algo maior. Por isso, vamos falar sobre os Limites da Liberdade Cristã.

Como usamos nossa liberdade? Somos guiados apenas por nossos desejos e vontades ou pela busca do que é bom e edificante? Paulo começou o capítulo com essa afirmação: "Tudo é permitido, mas nem tudo convém; tudo é permitido, mas nem tudo edifica." Ele está nos dizendo que, embora possamos ter a liberdade para fazer muitas coisas, nem todas serão benéficas para a nossa vida espiritual ou para os outros ao nosso redor. Paulo nos lembra de que, embora possamos ter o direito de fazer certas coisas, devemos sempre considerar se essas ações nos aproximam mais de Cristo, edificam a nossa fé e também, se nos fazem evoluir como pessoas. C.S.Lewis é o meu escritor favorito. Em "A Abolição do Homem"ele cita assim: “O homem é mais do que uma criatura de seus desejos; ele tem a capacidade de escolher entre diferentes possibilidades, e essa escolha é o que realmente o torna livre.” A liberdade cristã não é um passe livre para seguir nossos desejos sem discernimento. Em vez disso, deve ser exercida com sabedoria, considerando o impacto das nossas escolhas.
"A liberdade, no sentido cristão, é a capacidade de fazer o que é certo. Não é a liberdade de fazer o que se quer, mas a liberdade de fazer o que deve ser feito." (C.S.Lewis em Cristianismo Puro e Simples.)
Deus nos deu limites, e estabeleceu coisas que "podem/não podem", não por ser um Deus autoritário assentado sobre um trono dando ordem e sim, porque ter limites forjam nosso caráter e promovem o nosso crescimento pessoal. Eles existem para nos proteger e nos conduzir a uma vida plena; como um pai amoroso estabelece limites para o bem de seus filhos, Deus faz o mesmo conosco, sabendo que esses limites nos ajudarão a crescer e a nos tornar pessoas mais maduras espiritualmente. Estava estudando como, segundo a neurociência, os limites - ou a falta deles - afetam a nossa mente. Quando definimos o que é aceitável em nossas vidas, conseguimos lidar melhor com nossas emoções, diminuindo a ansiedade e o estresse. Isso acontece porque, ao saber até onde podemos ir, acalmamos uma parte do nosso cérebro que muitas vezes fica sobrecarregada. Além disso, ter limites nos ajuda a tomar decisões mais sábias, já que conseguimos pensar nas consequências das nossas ações e a fortalecemos nosso autocontrole. Aprendemos também a respeitar os limites dos outros, o que melhora muito nossos relacionamentos. Ou seja, ela nos mostra como os limites são essenciais para cuidarmos de nós mesmos e crescer como pessoas. No fim das contas, nos transformamos em versões melhores de nós mesmos. Por isso sou apaixonada pelas Escrituras. Ainda que muitos não a considere um Livro Sagrado, é inegável como ela é um verdadeiro manual de vida!
A verdadeira liberdade cristã se revela quando usamos nossa liberdade para servir aos outros, não para apenas nos satisfazer. Esse é o "algo maior" que os cristãos são chamados a viver. "Que ninguém busque o seu próprio bem, mas sim o dos outros." (1 Coríntios 10:24) Isso significa abrir mão de certos direitos em nome do amor ao próximo. É um chamado a seguir o exemplo de Cristo, que não buscou a sua própria vontade, mas a do Pai. A liberdade, portanto, é vista como um caminho para o serviço. Esse é um dos paradoxos do cristianismo: ao abrirmos mão de nossa liberdade em benefício do próximo, encontramos a verdadeira liberdade que Cristo nos oferece.
Em 1 Coríntios 8, Paulo cita um exemplo simplesmente perfeito de como funciona essa liberdade que leva em conta o bem do meu próximo. Naquela época, era comum participarem de banquetes onde se comia carne sacrificada a ídolos. Em outras palavras, ele disse o seguinte: Sabemos que esses ídolos não são nada e que existe apenas um Deus verdadeiro, se a gente come, não ganha nada a mais, e se não come, não perde nada a mais. Mas a questão é que nem todos têm esse conhecimento. Algumas pessoas ainda pensam que comer comida oferecida a ídolos é um grande problema e, para elas, entender isso pode ser uma grande confusão. Imagine que você está jantando com amigos e alguém vê você saboreando um prato que foi oferecido a um ídolo. Pra essa pessoa, que ainda não entende tudo isso, participar poderia dar a impressão de que os cristãos estavam em comunhão com a idolatria. Se por causa do seu conhecimento, essa pessoa acabar confusa na fé, você estará, de certa forma, pecando contra ela e, ao fazer isso, também estará ofendendo a Cristo. Por isso, se a comida - ou qualquer outra coisa - pode fazer um irmão tropeçar, prefiro abrir mão pra preservar a fé dele. O que Paulo está dizendo é que devemos ter discernimento para usar a nossa liberdade com sabedoria.
Quando falamos sobre a liberdade que temos em Cristo, é importante também olhar para como os usos e costumes de homens podem interferir nessa liberdade. Muitas vezes, as tradições e regras que as pessoas criam podem se tornar como muros ao nosso redor, limitando a forma como vivemos a nossa fé. Imagine que você está em um grupo onde todos têm suas próprias regras sobre o que é aceitável ou não. Essas opiniões podem ser tão fortes que fazem você se sentir pressionado a seguir o que todos pensam, como um verdadeiro mandamento. Assim, você pode acabar abrindo mão da sua liberdade para se encaixar. A verdade é que, em Cristo, temos liberdade para viver de maneira autêntica e seguir o que Deus realmente nos chama a fazer. Ao invés de nos deixarmos prender pelos costumes, devemos buscar a verdade na Palavra de Deus e entender que a liberdade em Cristo nos permite amar, servir e nos relacionar de forma genuína. Vamos valorizar a liberdade que Ele nos deu e lembrar que o amor é o que deve guiar nossas ações, e não as regras criadas por homens.
Mas uma coisa é fato, "Portanto, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus." (1 Coríntios 10:31)
Por fim, a liberdade em Cristo nos desafia todos os dias. Há momentos em que queremos seguir nossos próprios desejos e buscar nossa própria vontade, mas "Isso realmente edifica? Isso glorifica a Deus?" Às vezes, abrir mão de algo pode parecer uma perda, mas quando faço isso por amor a Deus e ao próximo, percebo que estou ganhando algo muito maior.
Talvez a verdadeira liberdade não esteja em fazer tudo o que podemos, mas em escolher o que é melhor, o que edifica, o que glorifica. E quando optamos por viver assim, não estamos apenas limitando nossa liberdade; estamos, na verdade, descobrindo a plenitude da liberdade em Cristo.
Nossa liberdade é preciosa demais para ser desperdiçada em coisas que não edificam, que não servem ao próximo ou que não glorificam a Deus. Ela é um presente que nos desafia a viver de modo que nossas escolhas sejam uma expressão do amor de Cristo.
Com amor e fé,
Cristão Teólogo.
Muito bom! 😊 Amei a reflexão, não é que nós cristãos não temos liberdade, mas o Senhor nos dá o livre arbítrio de escolher o melhor que Ele quer pra nós, para que não venhamos sofrer as consequências das nossas más escolhas! Nossa liberdade está em Cristo! 👏🏼👏🏼😍
Parabéns 👏🏽 Seus conhecimentos tem me levado a outras interpretações. Deus te Abençoe